Para início de conversa, o que é Business Model ou Modelo de Negócio?
O termo ‘modelo de negócio’ é muito recente, apesar de sempre ter existido . Ele passou a ser adotado como uma alternativa de abordagem de negócios por volta da década de 1990, quando as chamadas empresas ponto com emergiram em decorrência da expansão da internet. Esse novo ambiente demandou novas formas de organização de empresas e negócios, pois os processos pautados pela era industrial não atendiam às necessidades das empresas da era digital. Em paralelo a esse movimento, a comunidade acadêmica iniciou os estudos na área, e, a partir de então, foi produzida uma infinidade de artigos, dissertações e teses e, em todo o mundo, sobre modelos de negócios. Entretanto, um dentre tantos trabalhos publicados, recebeu destaque especial: o do pesquisador suíço Alex Osterwalder. Ao defender sua tese de doutorado sobre o tema e publicá-la na web, logo recebeu um convite para produzir um livro. Ele aceitou o desafio e, para tanto, criou uma uma comunidade, abrindo espaço para colaboração, e 470 praticantes de modelos de negócios de 45 países elaboraram, coletivamente, o livro Business Model Generation, lançado no Brasil em 2011 pela editora Alta Books. Dentre outros tópicos, a publicação apresenta o Business Model Canvas (Quadro de Modelo de Negócio), tornando-se mundialmente famoso.
O Canvas do Modelo de Negócio apresenta, em uma única página, nove áreas organizacionais que compõem qualquer tipo de negócio. Para o autor, a metodologia descreve a lógica de como uma organização cria, captura e entrega valor. Os componentes do quadro de modelo de negócios ampliam a compreensão da necessidade de conjugar a intuição, a criatividade e o rigor analítico no processo de inovação nas organizações.
Inspirado no Business Model Generation, Tim Clark, autor de diversas publicações, coach de grandes empresas e professor doutor em Tóquio, decidiu replicar a receita e lançou uma comunidade com o objetivo de adaptar o conteúdo do livro para um processo de coaching e redefinição de carreira. Surgiu assim, em 2012, o livro Business Model You, ou, em português, Modelo de Negócio Pessoal. Em parceria com os principais autores do Business Model Generation, Alexander Osterwalder e Yves Pigneur, a iniciativa reuniu 328 profissionais em 43 países.
Business Model You
Eu tive a oportunidade de participar da elaboração coletiva do livro, fazer a revisão da tradução para o português além de escrever o prefácio da publicação, ocasião que descrevi que Business Model You é um chamado para que as pessoas desenvolvam uma nova percepção para o entendimento da vida em rede e o que cada uma pode contribuir com o todo. Não se trata de receitas ou fórmulas de autoajuda, mas de uma descoberta de processo de autorreflexão, com resultados que vão além da imaginação. A inovação é imprevisível. E novos agrupamentos podem resultar em novas descobertas. Por exemplo, o hidrogênio é inflamável. O oxigênio é respirável. Quando juntamos H e O, temos a água, que é bebível, e ser bebível é considerado uma propriedade nova, inesperada, inexplicável a partir de um elemento inflamável ou respirável. Quando juntamos diferentes olhares, um novo olhar surgirá, inesperado e inexplicável. Assim é a vida. Neste processo do inexplicável e do inovador, abre-se a possibilidade de encontrar outras fórmulas para a vida profissional. Ao cruzarmos especialidades e conhecimentos, descobrimos novos significados, de uma forma simples e direta, divertida e inteligente.
Um modelo de negócio, em síntese, aborda como uma organização é sustentável financeiramente. Isso não difere na construção de uma nova vida profissional. Trocamos nosso trabalho e dedicação por uma remuneração que nos sustenta e nos proporciona o atendimento das nossas necessidades básicas e a plena realização. Business Model You é uma ferramenta que ajuda nesta reflexão, proporcionando um autoconhecimento que auxilia as pessoas a repensarem sua vida profissional e até efetuarem, com segurança, uma mudança de carreira.
O Canvas do Modelo de Negócio Pessoal ou Canvas BMYou é assim representado:
Podemos exercer diferentes papéis: somos pais e mães, somos filhos, somos profissionais de determinada área; podemos atuar em alguma organização de amparo aos animais ou a crianças em condição de risco. Identificados todos os papéis que desempenhamos no dia a dia, devemos destacar os mais relevantes e cujos resultados atendam às nossas expectativas. Para cada um deles, devemos elaborar um Canvas BMYou.
São nove blocos que representam as áreas da vida profissional:
1 – Clientes
Começamos por definir quem ajudamos, no lado direito do quadro. Por que iniciar por esse bloco? Porque é a partir das necessidades de quem atendemos ou ajudamos que moldaremos a nossa carreira, associadas com os nossos recursos-chave ou principais habilidades e competências. Nesse primeiro bloco – CLIENTES, Quem você ajuda – identifica-se quem são as pessoas, grupo de pessoas ou empresas que auxiliamos ou apoiamos e quem paga pelos nossos serviços. Nem todo pagamento, entretanto, é monetário. Há aqueles emocionais, os quais recebemos pelo apoio que damos a um irmão, aos nossos pais ou aos amigos.
2 – Proposta de valor – por que você ajuda os seus clientes?
A partir da definição das diferentes pessoas que ajudamos, o passo seguinte é descobrir que valor isso tem para cada uma delas. O valor aqui não é monetário; refere-se à importância atribuída ao serviço pelo cliente. Negócios não são feitos com base no que gostaríamos de realizar, mas, sim, na forma como podemos ajudar alguém a ter uma expectativa atendida, tornando-nos relevantes para cada cliente atendido. Para esse bloco que aborda a proposta de valor, é preciso ter conhecimento profundo dos anseios das pessoas atendidas para anteciparmos uma resposta e tornarmos o serviço relevante a eles.
3 – Canais – Como seus clientes sabem que você existe e como você entrega o seu serviço a eles?
Não adianta obtermos uma proposta de valor relevante se ninguém souber disso. Esse bloco aborda três etapas:
- divulgação da proposta de valor;
- contato com os clientes ativos;
- acompanhamento e manutenção dos clientes conquistados.
Na etapa de divulgação, podemos criar e manter um blog, divulgar comentários e opiniões em redes sociais de forma profissional e manter um perfil profissional em sites tais como LinkedIn e Beefind. Igualmente, podemos fazer uso do marketing digital para o envio de e-mail marketing e para a criação de e-books com conteúdo rico e de interesse do nosso público-alvo, por exemplo.
Na etapa de contato, acompanhamento e manutenção dos clientes conquistados, é importante verificar como cada um gostaria de ser acionado, respeitando diferenças e particularidades. É fundamental manter contato frequente com visitas, por meio de chats ou WhatsApp, com entrega de produtos em domicílio ou pelo envio de material que resolva as demandas deles.
4 – Relacionamento com o cliente
Um lado mais afetivo do Canvas, o bloco do relacionamento com o cliente define como interagimos com ele. Essa interação acontece de forma pessoal, impessoal, via internet ou automatizada. Nessa etapa, devemos refletir sobre o tipo de contato com o cliente que o serviço prestado exige. A partir daí, é essencial realizar as devidas adequações às necessidades e anseios dele a fim de conquistar a fidelização e a retenção na sua base de clientes ativos.
5 – Fonte de Renda – O que você ganha com o serviço que entrega?
Conforme o Canvas que estivermos trabalhando, o ganho poderá ser financeiro ou emocional. É importante destacar essa opção, e registrar as fontes de receitas, como honorários, pagamentos como freelancer e serviços temporários, entre outros itens.
6 – Recursos-chave – Suas habilidades e competências
Neste bloco, identificamos nossas principais habilidades e competências para entregarmos a proposta de valor adequada ao segmento de clientes. Recomenda-se destacar contatos, experiência, capacitações realizadas etc.
7 – Atividades-chave – O que tem que ser feito?
Nas atividades-chave lista-se tudo o que deve ser feito para que este modelo de negócio pessoal seja mantido. Representa um check-list, que pode ser acrescido dos prazos para a realização de cada atividade.
8 – Parcerias-chave – Quem ajuda você?
Neste item são considerados todas as pessoas com quem você pode contar para realizar adequadamente as atividades chave visando a entrega da proposta de valor
9 – Custos – O que você oferece?
Os custos estão relacionados ao tempo e a energia dispensados para a realização das atividades. Considera-se, também, as taxas, as despesas de viagens e com veículos e a logística necessária para atendimento dos clientes.
Construa o seu Canvas pessoal e deixe-o afixado em um local de fácil acesso para que seja revisado semanalmente. Gere empatia com o processo e amplie as suas possibilidades.
Percebemos alguns sentimentos predominarem entre muitos profissionais que necessitam de um apoio em sua carreira ou negócios: medo, dúvida ou descrença ocorrem eventualmente. E o que precisamos é despertar a confiança. Quando o padrão de comportamento vigente é o medo, a energia resultante é de competição, e o relacionamento interpessoal é superficial. Consequentemente, a evolução das pessoas acontece de forma isolada. Por outro lado, se o padrão de comportamento for de confiança, a energia reinante será de colaboração, resultando na coevolução entre as pessoas.
Vivemos em um novo contexto organizacional. E mudanças vêm ocorrendo na forma como as empresas contratam pessoas, ampliando as possibilidades de uma contratação temporária ou por um serviço específico. Ter as habilidades e competências avaliadas por meio do Business Model You aumentam as chances de você tornar-se empresário de si próprio, cultivando uma carreira promissora e valorosa.
Sobre a autora:
Maria Augusta Orofino é uma das pioneiras e um dos grandes nomes envolvidos no desenvolvimento de Modelos de Negócio , Inovação e Design Thinking no Brasil. Atua como palestrante ou facilitadora de workshops e treinamentos empresariais em todo o Brasil e no exterior. Nos últimos seis anos treinou e/ou capacitou mais de 6.500 pessoas no tema de Inovação, Design Thinking e Modelos de Negócios. Mestre em Gestão do Conhecimento com cursos de extensão realizados na Duke University e UC Berkeley – USA e Universidade de Barcelona – Espanha. É consultora organizacional e em empreendedorismo há mais de 25 anos. Foi coordenadora do programa INOVASC entre 2011 e 2013, responsável pela implantação de 13 polos de inovação em Santa Catarina. É co-fouder da Startup Beefind, uma plataforma que conecta as áreas de recursos humanos com consultores organizacionais e profissionais de educação corporativa – https://beefind.com.br. É co-autora do livro Business Model You e Ferramentas Visuais para Estrategistas.
Deseja conhecer melhor a Maria Augusta? Acesse: mariaaugusta.com.br
Artigo originalmente publicado na Revista Coaching edição 46
Referências:
Clark, Tim. Business Model You: o modelo de negocio pessoal – o método de uma página para reinventar a sua carreira. Rio de Janeiro, Alta Books, 2013
OSTERWALDER, A. et al. Inovação em modelos de negócios: um manual para visionários, inovadores e revolucionários. Rio de Janeiro, Alta Books, 2011
OROFINO, Maria Augusta. Técnicas de criação do conhecimento no desenvolvimento de modelos de negócio. Dissertação de mestrado UFSC, Florianópolis, 2011. Disponível em www.mariaaugusta.com.br